terça-feira, 13 de agosto de 2013

Para melhorar segurança pública no Brasil.

Andar pelas ruas a pé ou em um veículo em qualquer parte de uma cidade a qualquer hora seguramente, sem se preocupar com uma possível ameaça, deveria ser a realidade.

Enquanto São Paulo tem enfrentando mais uma onda de violência acompanhada de mais uma onde de indignação da opinião pública, e mais uma tentativa de enfrentar o problema com um novo conjunto de medidas, eu estava em Bogotá, na Colômbia, para uma série de visitas e apresentações em empresas sobre métodos avançados de administração.

Lancei então um olhar sobre a realidade colombiana, relembrei a paulistana e comecei a refletir sobre como um bom processo de gestão poderia contribuir para aumentar a segurança pública.

Quando lá cheguei, esperava encontrar uma cidade muito mais segura graças a uma série de medidas colocadas em prática na última década naquele país. Mas fui surpreendido com conselhos, embora familiares, que não esperava ouvir, tais como “jamais pegue um táxi na rua”, “atenção com quem vem atrás de você”, “não ande por certas partes da cidade” (o que para mim parecera boa parte da cidade), “não saia com joias e relógios caros”, “não mostre dinheiro em público”, “abotoe o bolso de trás da calca”, “não use o celular na rua” etc.
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Ao tentar utilizar um caixa eletrônico, fui surpreendido com a velocidade com que as telas desapareciam, o que depois soube se tratar de uma medida de segurança. Na frente do hotel, policiais armados de fuzis acompanhados de pastores alemães criavam um clima de guerra.

Os dados mostram que a taxa de homicídios em Bogotá tem decrescido nos últimos anos. Nos primeiros meses de 2013, chegou a 14,4 assassinatos por 100.000 habitantes. E, pasmem, os especialistas têm a esperança de um dia essa taxa continuar decrescendo e chegar aos níveis de São Paulo (6,3 assassinatos por 100.000 habitantes) em breve, conforme noticiado na imprensa local (jornal El Tiempo, 25/05/2013, p. 2).

Longe de nos confortar, esse fato ilustra como é difícil enfrentar o problema da segurança. A Colômbia tem enfrentando dificuldades enormes há muitos anos com a guerrilha urbana e rural, de grupos terroristas armados com o dinheiro do narcotráfico. E apesar dos progressos, a situação parece continuar grave.

Em São Paulo, o governo estadual anunciou que passará a oferecer “bônus” em dinheiro para policiais que conseguirem cumprir as metas de redução dos índices de criminalidade, além da criação de novos cargos para a polícia civil, sendo uma parcela importante para a polícia científica.

Há décadas, temos visto os governos atacarem esse problema sem jamais terem resolvido. Ao contrário, só piora. Não podemos dizer que seja má vontade. Trata-se da utilização de métodos inadequados.

A evolução da gestão da polícia pode fazer a diferença. Com pequenas melhorias na gestão da PM, foi possível, recentemente, liberar policiais para sair dos escritórios e ir para as ruas. Para quem já foi a uma delegacia fazer um boletim de ocorrência, e hoje em dia parece raro encontrar alguém que não tenha ido, nota-se a existência de processos inúteis que consomem mais tempo e recursos e não parecem ajudar a diminuir a criminalidade.

Será que essas novas medidas vão resolver ou ao menos ajudar? Estaria nos maiores estímulos aos policiais e mais recursos humanos as contramedidas eficazes para enfrentar a causa ou uma das principais causas da criminalidade?

A única maneira de sabermos se dessa vez as medidas surtirão efeito é esperar para ver os resultados. Não do próximo mês, mas em período mais longo. De qualquer modo, podemos refletir e avaliar quais são as chances dessas medidas se tornarem efetivas.

Essa maneira de administrar segue os métodos mais ineficazes de gestão. Ou seja, para resolver um problema, a resposta é aumentar a quantidade de recursos disponíveis. No caso da criminalidade e segurança, mais policiais, ganhando mais, com mais armas e equipamentos. Mas não resolve; e, depois de algum tempo, se colocam mais recursos no sistema, frustrando mais uma vez as expectativas.

Isso porque não houve um entendimento profundo das principais causas do problema. Acreditamos que um caminho para encontrar soluções efetivas é seguir o método que envolve:
a) Entender com profundidade a situação atual através do engajamento de todos aqueles que estão envolvidos a partir de uma visão sistêmica. Se não entendermos onde estamos e porque chegamos a essa situação, jamais conseguiremos melhorar. A violência e a criminalidade não são apenas uma questão de polícia, pois envolve várias dimensões das políticas públicas. E não pode ser uma questão partidarizada. Sem uma visão sistêmica, poderemos prender mais e a justiça continuar demorando muito a julgar. Ou ainda, as prisões já superlotadas não aguentarão a quantidade extra de prisioneiros que viria da maior eficiência da polícia.

b) Definir uma série de ações efetivas e concretas a serem empreendidas em conjunto, de forma sincronizada e articuladamente por todos os envolvidos de forma mais consensual possível. E obviamente implementá-las.

c) Estabelecer mecanismos de acompanhamento que possam ir além dos partidos e de quem está no poder no momento para garantir a continuidade da implementação e dos ajustes que se farão necessários.

No início dos anos 90, participei como consultor da Câmara Setorial da Indústria Automobilística que, na época, estava em crise e estagnada há décadas. Seguimos um método parecido com o sugerido e funcionou. Pode ser usado também para o problema da criminalidade e violência.

O que se tem visto são improvisações, medidas pontuais e desarticuladas que lamentavelmente não vão resolver. Parar de buscar culpados e parar de arrumar desculpas para o problema da segurança é essencial. Quem sabe assim começamos a resolvê-lo de verdade. Vai requerer planejamento, coordenação, não partidarização e humildade.

(José Roberto Ferro, presidente do Lean Institute Brasil, escreve às segundas-feiras. )

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