Apesar de ter atingido níveis recordes, o
endividamento das famílias brasileiras é baixo em relação a outros
países. Segundo levantamento, divulgado pelo Banco Central (BC) na
última semana, os brasileiros tinham 45,36% dos rendimentos
comprometidos com dívidas, no maior nível registrado desde o início da
série, em janeiro de 2005.
O número refere-se à comparação entre as
dívidas das famílias com o Sistema Financeiro Nacional e os rendimentos
acumulados nos últimos 12 meses. Há oito anos, esse percentual
correspondia a apenas 18,39%, mas subiu gradualmente até ultrapassar 40%
em março de 2011. Mesmo com esse salto, os brasileiros ainda usam pouco
o crédito na comparação com as economias avançadas.
Segundo os levantamentos mais recentes,
em grande parte dos países desenvolvidos, a população deve mais do que a
própria renda. Nos Estados Unidos, de acordo com o órgão responsável
pelo censo, o endividamento médio das famílias equivale a 101,7% dos
rendimentos.
Na Europa, as dívidas superam 100% da
renda na Estônia, na Espanha, na França, em Portugal, na Finlândia, na
Suécia e no Reino Unido, conforme o Eurostat – órgão oficial de
estatísticas da União Europeia. Na Dinamarca, na Irlanda, no Chipre, na
Holanda e na Noruega, a proporção supera 200%.
De acordo com o economista Fabio Gallo,
especialista em crédito da Fundação Getulio Vargas, o que impede o
endividamento dos brasileiros de atingir os níveis dos países
desenvolvidos são os juros altos, que se refletem no alto valor das
prestações. “A grande diferença do Brasil em relação aos países
avançados nessa questão não está somente no nível de endividamento, mas
no serviço da dívida, que é muito mais alto no Brasil do que em outros
países”, explica.
Segundo o levantamento do Banco Central,
as famílias brasileiras comprometem, em média, 21,4% da renda mensal
com prestações. Desse total, 12,74% referem-se a juros e somente 8,66%
dizem respeito à amortizações, pagamento do principal da dívida que
reduz o saldo devedor.
“Nos Estados Unidos ou na Europa, as
famílias se endividam além da renda, mas pagam prestações relativamente
pequenas e com prazos longos. No Brasil, é justamente o contrário. O
endividamento é baixo, pelo menos em relação a esses países, mas as
prestações consomem boa parte do salário”, pondera o especialista da
FGV.
Por causa dos altos juros e da
inadimplência, o professor diz que o maior endividamento dos brasileiros
deve ser visto com cautela. “Boa parte desse endividamento não está
relacionada a investimentos de longo prazo, como a casa própria, mas ao
próprio consumo. Muita gente comprou carro em 2009 e não conseguiu
pagar. Daí, recorre a financiamentos para pagar dívidas de consumo”,
ressalta.
Segundo o professor, os juros altos no
Brasil criam um círculo vicioso em que a inadimplência que se reflete em
taxas ainda mais altas para os tomadores de crédito. “Infelizmente, a
inadimplência em geral é repassada para as taxas dos bancos. O cadastro
positivo [relação de bons pagadores] pode melhorar isso, mas o processo
ainda está no início”, avalia. As informações são da Agência Brasil.
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